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sexta-feira, 27 de maio de 2016

Momentos históricos e a história dos momentos

João Carrega
Marcelo Rebelo de Sousa disse, este mês, no âmbito dos 40 anos das primeiras eleições presidenciais democráticas realizadas em Portugal, que poder ter numa mesma iniciativa o primeiro Presidente da República, pós 25 de abril, (Ramalho Eanes) e o atual, promovendo um saudável debate com os alunos do ensino básico e secundário é "um momento único e histórico".

A sessão decorreu na terra (Castelo Branco) em que o primeiro Chefe de Estado eleito democraticamente cresceu (ele que é natural da vila de Alcains). E Marcelo Rebelo de Sousa não poderia ter mais razão. São poucos os países que se podem dar a esse luxo. E mais: são poucas as repúblicas que permitem aos jovens alunos debaterem, olhos nos olhos, com os protagonistas que fizeram um dos maiores acontecimentos desta nação, questões que os afetam, como a educação, a emigração, a democracia.

O momento, histórico, permitiu que Ramalho Eanes, com uma objetividade enorme, desse uma aula de cidadania, de humildade, mas acima de tudo de muito querer. Disse, alto e bom som, que não admitia um ensino secundário sem qualidade. Defendeu também os professores, que devem ser mais respeitados. Lembrou que em matéria de ensino público ou privado, o Estado, sendo ele pagante, deve ser regulador, garantindo qualidade e igualdade. Ramalho Eanes entende que a democracia deve continuar a ser valorizada e estimulada.

Um estimulo que pode ser feito de várias formas. De participação cívica, de não entregar apenas a política aos políticos, da promoção de um ensino de qualidade, aberto a todos, com igualdade de oportunidades. Isto também faz parte da democracia. E é nesta cultura que Portugal conquista, pela primeira vez, uma medalha de ouro na Olimpíada da Ciência da União Europeia, com uma equipa composta pelos alunos Guilherme Vilela Alves e Raúl Pombo Monteiro, ambos do Agrupamento Escolas Nuno Álvares, em Castelo Branco, e Luís Miguel Costa e Silva, da Escola Secundária Aurélia de Sousa, no Porto, numa competição que juntou estudantes de 23 países europeus.

Esta conquista foi outro momento histórico. E a história do momento é que os jovens alunos tiveram que trabalhar muito, abdicar de fins-de-semana, para se prepararem em Lisboa, e de muitas horas de lazer semanais em troca de outras tantas de trabalho, que os fins-de-semana não eram suficientes. Chegados à Olimpíada conquistaram o ouro, demonstrando que Portugal é competente. Que mesmo o Portugal do interior do país, muitas vezes olhado nas grandes cidades como um Portugal menor, sabe ser conquistador. Mas a história, deste momento, diz-nos também que a escola, sobretudo a pública - que é frequentada pelos medalhados portugueses - soube cumprir o seu papel com qualidade. E isso deixa-nos também mais tranquilos. Afinal o desenvolvimento de um país faz-se com gente qualificada. Bem qualificada. E Portugal, os portugueses, devem partilhar a ideia de Ramalho Eanes, na persecução de um ensino de qualidade, que certamente contribuirá para muitos momentos históricos…

João Carrega é Diretor do Ensino Magazine
carrega@rvj.pt

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