João Carrega |
Marcelo Rebelo de Sousa disse, este mês, no âmbito dos 40 anos das primeiras eleições presidenciais democráticas realizadas em Portugal, que poder ter numa mesma iniciativa o primeiro Presidente da República, pós 25 de abril, (Ramalho Eanes) e o atual, promovendo um saudável debate com os alunos do ensino básico e secundário é "um momento único e histórico".
A sessão decorreu na terra (Castelo Branco) em que o primeiro Chefe de Estado eleito democraticamente cresceu (ele que é natural da vila de Alcains). E Marcelo Rebelo de Sousa não poderia ter mais razão. São poucos os países que se podem dar a esse luxo. E mais: são poucas as repúblicas que permitem aos jovens alunos debaterem, olhos nos olhos, com os protagonistas que fizeram um dos maiores acontecimentos desta nação, questões que os afetam, como a educação, a emigração, a democracia.
O momento, histórico, permitiu que Ramalho Eanes, com uma objetividade enorme, desse uma aula de cidadania, de humildade, mas acima de tudo de muito querer. Disse, alto e bom som, que não admitia um ensino secundário sem qualidade. Defendeu também os professores, que devem ser mais respeitados. Lembrou que em matéria de ensino público ou privado, o Estado, sendo ele pagante, deve ser regulador, garantindo qualidade e igualdade. Ramalho Eanes entende que a democracia deve continuar a ser valorizada e estimulada.
Um estimulo que pode ser feito de várias formas. De participação cívica, de não entregar apenas a política aos políticos, da promoção de um ensino de qualidade, aberto a todos, com igualdade de oportunidades. Isto também faz parte da democracia. E é nesta cultura que Portugal conquista, pela primeira vez, uma medalha de ouro na Olimpíada da Ciência da União Europeia, com uma equipa composta pelos alunos Guilherme Vilela Alves e Raúl Pombo Monteiro, ambos do Agrupamento Escolas Nuno Álvares, em Castelo Branco, e Luís Miguel Costa e Silva, da Escola Secundária Aurélia de Sousa, no Porto, numa competição que juntou estudantes de 23 países europeus.
Esta conquista foi outro momento histórico. E a história do momento é que os jovens alunos tiveram que trabalhar muito, abdicar de fins-de-semana, para se prepararem em Lisboa, e de muitas horas de lazer semanais em troca de outras tantas de trabalho, que os fins-de-semana não eram suficientes. Chegados à Olimpíada conquistaram o ouro, demonstrando que Portugal é competente. Que mesmo o Portugal do interior do país, muitas vezes olhado nas grandes cidades como um Portugal menor, sabe ser conquistador. Mas a história, deste momento, diz-nos também que a escola, sobretudo a pública - que é frequentada pelos medalhados portugueses - soube cumprir o seu papel com qualidade. E isso deixa-nos também mais tranquilos. Afinal o desenvolvimento de um país faz-se com gente qualificada. Bem qualificada. E Portugal, os portugueses, devem partilhar a ideia de Ramalho Eanes, na persecução de um ensino de qualidade, que certamente contribuirá para muitos momentos históricos…
João Carrega é Diretor do Ensino Magazine
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